Com o objectivo de sensibilizar os vianenses para a importância da tauromaquia na cidade, a Tertúlia Taurina e Equestre de Viana do Castelo organizará, no próximo sábado, um passeio a cavalo. Com a concentração de amazonas e cavaleiros marcada para as 15h00 junto à praça de toiros, seguir-se-á um passeio pela cidade como forma sensibilizar os cidadãos e autarcas para uma tradição com cerca de 140 anos e que o Presidente da Câmara pretende agora interromper. |
É irreversível! A Câmara Municipal de Viana do Castelo já adquiriu a praça de toiros da cidade. O tauródromo, que desde há sessenta anos recebia os maiores nomes da tauromaquia nacional e que tantas tardes memoráveis proporcionou à aficion minhota, será demolido para dar lugar a um equipamento que ninguém ainda percebeu ao certo o que será e que, segundo o próprio Presidente do Município, “ainda não se sabe quanto irá custar”. Ou seja, Defensor Moura irá demolir a Praça de Toiros sem ter um projecto definido e sem sequer imaginar quanto esse projecto custará aos contribuintes e cidadãos vianenses.
Este autarca, que recentemente “ganhou” o referendo local (com 70% de abstenção) deixando Viana isolada do resto do distrito e que há longos anos tenta demolir o prédio Coutinho, afirma que a cidade “não tem tradição” e “nos dias hoje não se justifica o sofrimento destes animais”. Vemos assim que, para este autarca “modelo”, 140 anos de referências tauromáquicas na cidade que outrora foi a Princesa do Lima não são suficientes para criar tradição. Defensor Moura tem todo o direito de não gostar de corridas de toiros, não tem é direito de ignorar uma realidade que há tantos anos faz parte do imaginário vianense. Pior que o desrespeito pelo povo que o elegeu e que todos os anos enche a praça da cidade, só mesmo a ignorância ou a vontade de fazer esquecer o que é autêntico, legítimo e tipicamente português.
Para além de aberrante, esta decisão revela o que de pior existe na governação autárquica deste país. Recentemente o Instituto Nacional de Estatística revelou os dados relativos à Cultura, Desporto e Recreio no ano de 2007 e onde fica bem expressa a importância cultural e económica da festa brava. Reconheço que era necessária uma intervenção no tauródromo vianense, mas inteligente seria dotá-lo de condições que permitissem realizar outro tipo de espectáculos, talvez um pavilhão multiusos coberto que permitisse a realização de espectáculos musicais, teatro e, evidentemente, corridas de toiros, infra-estrutura que aliás a cidade não possui. Em vez disso prossegue-se para a demolição, sem objectivos, sem metas, sem orçamentos, sem justificação. Podia o Presidente do Município observar o exemplo do Campo Pequeno, de Évora ou de Elvas, ou mesmo o de Cascais onde, depois da demolição da praça de toiros, é este ano anunciada a realização de corridas em praça desmontável, mas não, prefere enveredar pelo caminho mais fácil, mais inconsequente, mais eleitoralista. É a política do betão em nome de uma dita modernidade sem referências e sem passado.
Nem o valor patrimonial do edifício interessou ao autarca, que o adquiriu por pouco mais que cinco mil euros (5127,74€). Referência arquitectónica dos meados do século passado e com uma pequena capela no interior poderia, se alvo de uma intervenção e modernização cuidadas e inteligentes, tornar-se mais uma referência de Viana do Castelo.
Defensor Moura pensa que acabará assim com as corridas de touros na cidade de Viana, mas rapidamente veremos instalar praças de toiros desmontáveis, conseguindo assim perpetuar a tradição que há tantos e tantos anos é parte integrante do programa das Festas da Senhora d’Agonia. Perdurará a festa mas perderá o público, os artistas e a cidade.
Este triste episódio, que ficará indelevelmente marcado na história da tauromaquia portuguesa, demonstra o avanço imparável daqueles que tentam destruir a festa brava, perante a passividade e impotência dos que se dizem taurinos. Algumas notas na imprensa da especialidade foi ao que se resumiram os protestos, se assim lhes podemos chamar, daqueles que amam e mesmo dos que vivem da festa. É assim que caminharemos para o fim da nossa identidade, das nossas tradições, para a homogeneização cultural de toda a sociedade. É assim que deixamos esquecer quem somos!
Pedro Santos Vaz