Viana do Castelo voltou a receber uma Corrida de Toiros no passado dia 19 de Agosto, depois de alguns anos privada de receber este espectáculo pela decisão despótica do então Presidente da Câmara Defensor de Moura, seguida pelo seu sucessor.
A PRÓTOIRO, Federação das Associações Taurinas, esteve directamente envolvida na organização desta corrida que repôs a legalidade e a liberdade em Viana do Castelo e que contou com mais de 2.300 espectadores.
Diogo Costa Monteiro (DCM): Na verdade, a esmagadora maioria do trabalho da PRÓTOIRO é um trabalho de bastidores. Quando chegámos ao mundo dos toiros (eu, o Hélder Milheiro e o José do Carmo Reis somos apenas aficionados) encontrámos um sector com enorme potencial mas completamente desorganizado, sem rumo, sem estratégia, a viver do e no amadorismo. E o facto de a tauromaquia se aguentar mesmo vivendo do e no amadorismo só prova que, efectivamente, trata-se de uma arte e de um espectáculo profundamente enraizados na cultura dos portugueses. Por isso, aquilo que verdadeiramente pretendemos é pensar a Festa a médio e longo prazo, é lançar as fundações para que, dentro de 10 anos, ela esteja mais sólida e mais saudável do que está hoje. Queremos que seja um espectáculo cultural, com verdade, com seriedade, com rentabilidade e com profissionalismo. Somos, possivelmente, o único sector cultural que se pode auto-potenciar e auto-sustentar. Mas ainda estamos muito no início. (…) Porque a Festa defende-se sobretudo dando-a a conhecer. Uma Festa forte é inatacável. Evidentemente que, para além deste trabalho de bastidores, temos combatido todos os ataques que vão surgindo e que, na maioria das vezes, passam totalmente despercebidos à maioria da aficion. Por exemplo, só este ano já conseguimos refutar e desarmar 4 iniciativas na Assembleia da República que, a serem aprovadas, significariam um rude golpe na Tauromaquia. Foi o caso da Petição para proibir as corridas de toiros, do projecto-lei para alterar o estatuto jurídico dos animais, do projecto-lei para impedir os apoios públicos à tauromaquia e do projecto-lei para proibir as transmissões televisivas de corridas de toiros. Perdoem-me a modéstia mas, se não houvesse PRÓTOIRO, muitos danos teriam já sido causados à Festa.
O que aconteceu em Viana do Castelo foi precisamente aquilo que nós gostaríamos que acontecesse em todo o País. Depois de sermos contactados e termos falado com a afición de Viana, criou-se uma task force monumental de aficionados dispostos a ajudar-nos. Na verdade, se não fossem as gentes de Viana, e em particular o Senhor José Carlos Durães, não tinha havido corrida. As pessoas estavam tão revoltadas com a proibição, que quiseram fazer tudo para ajudar. Foi mesmo gratificante e até emocionante ver o activismo das pessoas e a sua luta pela sua liberdade. Fizemos lá muitos amigos.
T: Qual era a lotação da praça desmontável que foi montada para o efeito? E qual o número de bilhetes vendidos? DCM: A praça está licenciada para 3.200 lugares, colocámos 2.600 à venda e vendemos cerca de 2.300.
DCM: Desde que a Comissão Executiva da PRÓTOIRO tomou posse, em Janeiro de 2012, que tínhamos como objectivo ajudar os vianenses a acabar com a ilegalidade da “cidade anti-touradas” de Portugal. Portanto, o objectivo era esse mesmo. Mostrar que, a partir de agora, não se cometem mais atropelos à Festa Brava em Portugal. Acabaram-se as ditaduras culturais e as censuras à liberdade por parte de Câmaras Municipais. Acabaram-se as jogadas demagógicas por parte de alguns presidentes de Câmara que, enganados pela demagogia e ódio animalista, achavam que podiam proibir um espectáculo que é legal e que move milhões de pessoas em Portugal, censurando a liberdade dos portugueses. Agora já ficaram a saber: quem se armar em ditador cultural e não respeitar a lei e a liberdade dos cidadãos, vai passar pela vergonha de levar um “puxão de orelhas” de um Tribunal, e de ser lembrado à força que Portugal é um estado de direito. Foi o que aconteceu ao lacaio do Senhor Defensor Moura, que andou a semana inteira inchado como um balão esquecendo-se que a menor picadela o esvaziaria. Saiu derrotado e em vergonha. Espero que tenha aprendido e que tenha servido de exemplo para os outros. Se não aprendeu, cá continuaremos até ele aprender.
Salvo duas excepções, não houve absolutamente ninguém que nos colocasse algum entrave. Aliás, posso dizer que as “contratações” para a corrida foram todas feitas pelo telefone e demoraram, em média, 30 segundos. Quem não tinha compromissos já agendados disse imediatamente que sim. Os toiros foram oferecidos e se mais fossem necessários mais teriam sido dados. Sinceramente, ficámos verdadeiramente felizes ao ver esta vontade em colaborar da parte dos agentes da tauromaquia. Porque, e repito, se isto aconteceu foi porque a PRÓTOIRO deu um empurrão, mas depois a vitória foi de todos os que a tornaram possível, e que prontamente se disponibilizaram para ajudar. Temos, de uma vez por todas, de perceber que quando nos mobilizamos e unimos nada nos pode parar. Viana foi o primeiro exemplo, muitos mais se seguirão.
DCM: As associações animalistas são um negócio que vive à custa da ideia de que os animais são iguais as nós e os cãezinhos e os gatinhos e os peixinhos e os tourinhos são todos muitos fofinhos e muitos queridinhos e portanto não se lhes pode fazer dói-dói, nem comê-los, etc. etc. Não é possível explicar isto em 20 linhas, mas é um fenómeno social quase patológico que se prende com a secularização da sociedade e o afastamento da natureza. Hoje em dia não há símbolos nem há causas para lutar. Acabou-se Deus, o comunismo morreu, foi-se a luta pela emancipação da mulher… Onde nos vamos agarrar? Sobram duas causas que, se virmos bem, estão em plena ascensão: a responsabilidade social e o animalismo. Uns ajudam as pessoas, outros os animais. E depois há uns espertos que perceberam isto e que ganham muito dinheiro à conta destas tendências sociais. (…) Veja-se Viana. Estavam lá todos, a Animal, o PAN, o Defensor Moura, e, supostamente, mais 50 associações anti-touradas que representam 50 pessoas. Estavam quando? Às 13 horas. Para quê? Para aparecerem no telejornal. E depois a tropa de choque animalista e radical foi fazer barulho para a porta da praça. Para quê? Também para aparecerem no telejornal – claro que já sem os líderes, pois estes já tinham regressado a casa, que isto de estar 3 horas de pé é uma maçada no meio do pó. (…) Porque tornam-se tão radicais e fundamentalistas que começam, efectivamente, a incomodar quem só quer ser deixado em paz, vivendo a sua liberdade. E quando incomodam as pessoas, estas organizam-se e põem-nos no seu devido lugar(…) O que vai acontecer é que os cabecilhas destas organizações, ao perceberem que são incapazes de ir mais além, vão pôr em prática todo o seu fundamentalismo e radicalismo e vamos começar a ver, como já vemos noutros países, o terrorismo animalista a entrar em força em Portugal. Vamos começar a assistir, cada vez mais, ao extremar de posições e à prática de actos violentos contra pessoas e bens, ao qual se junta a estratégia, que já está a ser seguida, de lançar mentiras e calúnias para a opinião pública para denegrir a imagem da tauromaquia. O último exemplo é afirmarem que a tauromaquia recebe 12 milhões de apoios por ano do estado, o que é uma mentira ridícula, pois todos sabem que não existem apoios estatais à tauromaquia. Mas tudo isso é uma questão de polícia e não de política.
DCM: Sabemos o que vamos ter de enfrentar: ameaças, violências, ofensas. Aliás, já enfrentamos. Há muito dinheiro em jogo do outro lado… Sabemos também que o número dos nossos inimigos varia na proporção do crescimento da nossa importância. Mas acontece o mesmo com o número dos amigos, por isso cá estaremos todos juntos para aguentar essas investidas.
Quanto ao funcionamento da PRÓTOIRO, é muito simples: como qualquer associação de direito privado sem fins lucrativos, a PRÓTOIRO tem uma assembleia-geral. Depois, tem uma Direcção, que é composta pelos Presidentes da APET; APCTL, ANDT, ANGF e Tertúlia Tauromáquica Terceirense. Essa Direcção analisa e aprova a estratégia de actuação da Federação que é proposta e executada pela Comissão Executiva, composta por mim, pelo Hélder Milheiro e pelo José do Carmo Reis.
Viana do Castelo foi, realmente, um óptimo exemplo em vários aspectos: Existe uma escolha entre ficar parado a dizer mal, ou fazer. Se todos optarem pela segunda hipótese, a Festa vai melhorar e muito. Reparemos bem nisto: nós temos um património gigante para preservar, defender e melhorar. Temos séculos de história que ainda se está a construir. Temos um património cultural imaterial em constante evolução. Temos números, somos reais. Somos milhões. Isto vê-se nos espectáculos realizados, no número de espectadores: cerca de 900 mil. Vê-se no número de festas populares taurinas e na enorme adesão que têm: cerca de 3 milhões de pessoas. Vê-se nos shares das corridas televisionadas: sempre mais de meio milhão de telespectadores. Vê-se e sente-se em todo o lado. O que têm os antis? Nada. Páginas na internet e envio de emails. Mais nada. Não têm património para preservar, são contra, são pela destruição da cultura portuguesa. São “antis”. Por isso são o menor dos nossos males. O nosso verdadeiro desafio é melhorar esta nossa riqueza patrimonial, adaptá-la ao século XXI, torna-la atractiva, dá-la a conhecer. Mas isso só se consegue se nós tivermos a percepção que a Festa é um elemento vivificador comum. Que é uma ocasião em que todos nos unimos em torno de um mesmo objecto – o Toiro – e dessa união, nascem laços de proximidade, de fraternidade, de amizade e, em suma, de comunidade. É precisamente o mesmo que acontece com a língua. É um factor de aproximação e de conforto. Eu tenho de defender a Festa, porque ela faz parte de mim, da minha cultura, mas porque faz também parte da pessoa que está ao meu lado, da liberdade comum. Por isso é que preservar a Festa é muito mais do que preservar o Toiro. É preservar os nossos laços enquanto Povo, o nosso modo de ver o mundo, as nossas histórias, o nosso património cultural e humano. A nossa história. E, sendo um património comum, só será preservado se o for pela comunidade, por todos aqueles em cuja identidade está marcado a fogo o Toiro de Lide. Por isso a mensagem que a PRÓTOIRO quer deixar é esta: a PRÓTOIRO pode ser uma alavanca para essa preservação e melhoramento, pode ser um elemento aglutinador. A verdadeira defesa da Festa só se faz se for feita por todos os aficionados e defensores da liberdade e da cultura, porque a Festa é um património comum a todos. Foram as gentes de Viana que possibilitaram o regresso das touradas à foz do Lima. Terão de ser as gentes de Portugal a preservar um património cultural imaterial que é seu e de mais ninguém. E está visto que, quando os aficionados se unem, a Festa é imbatível. A PRÓTOIRO cá estará para fazer o seu trabalho, pela cultura portuguesa, pela nossa identidade e pela Liberdade. Mas é tempo de agirmos todos! Porque juntos somos mais fortes!