O Mirante 02-05-2007
Domingos da Costa Xavier, veterinário e membro da Confraria do Toiro Bravo
“A carne de toiro bravo é um nicho de luxo que deve ser potenciado e valorizado”
A carne de toiro bravo “é um nicho de lixo que pode ser transformado num nicho de luxo”. A ideia é vincada pelo médico veterinário de Coruche, Domingos da Costa Xavier, membro da Confraria do Toiro Bravo, e um dos maiores defensores das vantagens deste tipo carne. “Não há outra carne com a qualidade da carne de toiro bravo. Basta ver que nenhum outro animal chega aos quatro anos de vida”, refere.
O especialista considera que o país tem desperdiçado milhões de euros numa mais valia. Domingos Xavier recorda que só na última temporada foram lidados mais de 1500 toiros e novilhos nas praças portuguesas. A esmagadora maioria dos animais foi comercializado como um subproduto. Teve como fim a produção de alimentos para animais quando deveria constituir carne de excelência para consumo humano. “Somos um país pobre que se dá ao luxo de desperdiçar os seus melhores recursos”, critica.
Um dos problemas que se coloca aos comerciantes de carne é o abate. O veterinário defende que devem ser criadas condições para os animais serem abatidos nas praças ou em matadouros, imediatamente após as lides de modo a evitar os estados febris e as consequências para a carne.
Domingos Xavier chama ainda à atenção para a expressão do “refugo das tentas”. As ganadarias fazem a selecção das vacas para reprodução do toiro de lide e as rejeitadas podem ser aproveitadas para alimento humano. “Todos os anos há milhares de animais desperdiçados”, lamenta.
O veterinário, aficionado e crítico taurino, defende que o primeiro passo deve ser o esclarecimento da opinião pública através de mensagens promocionais e da realização de convívios gastronómicos como a mostra do toiro bravo que decorre em Coruche. “Não há nada como provar para ficar a gostar”, adianta. Domingos Xavier é um bom garfo e a carne de toiro bravo faz parte da sua dieta. A mão de vaca com grão tem um sabor “muito melhor se a vaca for brava. O mesmo acontece com as carnes grelhadas que só necessitam de uma pitada de sal e brasas para assar a preceito. A carne brava não tem aquele aspecto brilhante que encontramos no talho e que resulta da acção de hormonas e substâncias adicionadas para “encher o olho”. O veterinário explica que a carne de toiro bravo é mais escura e mais rija que a industrial. “Temos dentes para mastigar e a mastigação faz parte do acto de comer”, ironiza o especialista.
Domingos Xavier lembra que os espanhóis encontraram na carne de toiro bravo uma oportunidade de negócio e hoje ela está no cardápio dos melhores restaurantes.
Em Portugal, contam-se pelos dedos as ementas que têm regularmente carne de toiro bravo e “há apenas dois ou três operadores que comercializam este tipo de carne” que considera “uma carne acabada, mais ecológica e mais saudável”. E porque os olhos também comem é necessário melhorar a apresentação da carne e criar a marca “toiro bravo” para a colocar no “mercado de luxo”.
Para ajudar a promover o toiro no prato, Domingos Xavier está a fazer uma investigação de receitas do Século XVIII porque o sucesso também passa pela arte de confeccionar de modo a realçar o sabor genuíno do toiro bravo.